sábado, 8 de outubro de 2011

BOA ATRIZ MAS UMA PÉSSIMA OBREIRA


“Desde que me conheço por gente sempre fui uma pessoa triste. Quando criança era débil, nada me alegrava, mas à frente dos outros era alegre, bem disposta e aos seus olhos era, supostamente, uma criança considerada “normal”, mas dentro de mim havia um vazio que me consumia.
Dei-me conta da minha tristeza a partir do momento em que fui para a escola, onde sentia inveja de todas as crianças que tinham pais, pois eu nunca cresci com os meus, então, por isso, sentia-me diferente, frágil, carente e por todos estes motivos sentia vontade de morrer. Queria deitar-me e nunca mais acordar, para não ter que viver todas as minhas frustrações mais um dia.
Cada dia, para mim, era uma frustração e assim fui crescendo, o mais incrível disto tudo é que eu já estava na Igreja, conhecia a Palavra de Deus, frequentava a escolinha, mas a Palavra de Deus só fazia efeito em mim dentro da Igreja, porque assim que saía para a rua era como se tudo o que tinha sido ensinado fosse esquecido na totalidade.
Tornei-me tia da escolinha e ensinava às crianças o mesmo que um dia aprendera. Aparentemente, eu era um exemplo a seguir, mas era algo superficial, pois dentro de mim continuava a “guerra interior”. Ir à Igreja era uma forma de me distrair, porque não pensava em mais nada, já que tudo o que me pediam era bem feito e por isso acredito que conseguia impressionar pastores, obreiros, etc.
Passado dois anos fui levantada a obreira e foi aí que o meu mundo ruiu… aceitei, pois  não tive coragem de dizer que não queria ser, já que no fundo sabia que a minha vida era uma ilusão. Por outro lado, sabia que se não aceitasse ser obreira a minha família ia achar que eu não estava bem, iriam julgar-me e ficaria mal vista por todos, pois naquela altura o sonho de qualquer jovem era ser obreira e casar com um pastor.
E, assim, deixei-me ser levada pela mesma maré, o que ficava bem fazer aos olhos dos outros eu fazia, pois tinha uma necessidade enorme de que as pessoas gostassem de mim. Então, para isso acontecer, anulava a minha vontade, chegando até ao ponto de deixar de fazer o que estava certo para poder agradar aos outros. Sabendo o que sei hoje, deveria ter tomado logo a decisão certa, a de não aceitar ser obreira sabendo que dentro de mim não tinha condições de o ser, poderia ter evitado tanta dor.
Era uma jovem mentirosa, cheguei várias vezes a sentir inveja das minhas colegas por terem namorados, por saírem à noite, frequentarem discotecas, terem uma vida sem regras: eu queria ser como elas. Ninguém poderia imaginar o se passava realmente comigo, porque eu fingia muito bem, era uma boa actriz.
Assim foram passando os anos, sem novidade de vida, estava cada vez pior, queria encontrar culpados para a minha situação, mas eu era a única responsável por não me entregar de facto e de verdade nos braços de Jesus.
Até que um dia tentei o suicídio, porque vivia sufocada, sentia-me fisicamente cansada com o esforço que fazia para fingir ser feliz. Com a tentativa de suicídio vi que me tinha sido dada uma 2ª oportunidade de viver, pois não tinha ficado com sequelas. Depois do susto, tentei entregar-me a Jesus, tentei ser uma pessoa diferente, mas as coisas do mundo cativavam-me, tinham uma força enorme sobre mim e só conseguia ser forte dentro da Igreja… bom, mais uma tentativa falhada, pois continuava na mesma quando vestia o uniforme: sentia-me linda por fora, recebia muitos elogios, mas por dentro a podridão tomava conta de tudo, era como se tivesse duas pessoas no meu interior, por um lado queria ser uma Mulher de Deus e por outro uma mulher do mundo e, sem dar conta, esta apoderava-se cada vez mais de mim…
Nas minhas orações sentia vergonha, porque sabia que podia enganar a todos, mas jamais a Deus, então, a maior parte das minhas orações eram de humilhação. Pedia perdão a Deus como se fosse o último dia da minha vida, mas eu própria não me perdoava. Cada dia que passava era um peso para mim, pois desejava muito as coisas deste mundo, até que não pude fingir mais e abri o jogo para a minha irmã. Ela aconselhou-me a falar com o pastor para eu sair de obreira, para o meu bem, pois só estava a destruir a minha vida e cada dia que passava ela temia pela minha salvação….
E assim foi, depois de uma semana de muita luta fui falar com o pastor e o conselho dele foi o mesmo. Nesse dia saí de obreira e vou ser muito sincera, pensei em consertar-me e consertar a minha vida só nos primeiros minutos depois de falar com o pastor, porque no meu coração senti a liberdade de poder fazer o que eu quisesse, pois já não tinha “o peso de ser obreira” e, então, aconteceu a minha destruição.
Fiz de tudo um pouco, fumei, namorei, fui a discotecas, mentia, transformei-me numa pessoa rude, mal educada, rancorosa, queria curtir a vida ao máximo, bebi, tive relações sexuais e o que antes dizia para as minhas colegas que nunca iria fazer, pois assim aprendera em casa e na Igreja, quando me vi na situação não quis saber nem de Igreja nem educação, parecia que nunca tinha ouvido falar de Deus. Eu era uma vergonha, mas o mais incrível é que eu convidava as minhas colegas para irem à Igreja comigo, pois eu nunca deixei de ir, ou seja, eu tinha esta vida, mas sempre a frequentar a Igreja e ainda ficava chateada com as minhas colegas, quando elas não aceitavam ir.
Esta vida durou quase um ano e na mesma a tristeza continuava a tomar conta de mim. Antes, era porque eu queria conhecer o mundo e ser como eu dizia “uma rapariga normal como as outras”, porque me achava “anormal”, diferente, e até perguntava a Deus nas minhas orações “porquê eu?! Com tanta gente no mundo, porquê o Senhor me escolheu?”. Achava injusto conhecer a Deus e ter que viver no meio de tantas regras, a minha tristeza passou a ser a razão de eu desperdiçar a minha vida, em vez de me agarrar aos braços de Deus.
Por fim, tanta coisa fiz e agora sou mãe, mas até na minha gravidez tive lutas interiores, guerras grandes, culpas infinitas, sentia dor, nojo de mim, daquilo em que me transformei. Punha as culpas em todos, principalmente nos meus pais por me terem deixado. Sentia acusações graves na minha cabeça, tanto que nem votos e nem orações me ajudavam, porque eu fazia tudo na força do meu braço, queria que as coisas acontecessem no meu tempo e não no tempo de Deus, por isso a ansiedade tomava conta de mim… queria morrer… até ao dia em que resolvi mudar, pôr um ponto final na miséria de vida que eu levava desde que me conheço por gente e essa decisão mudou a minha vida, a revolta encheu-me de força e esperança.
Hoje perdoo, hoje sei ouvir e conheço a Deus. Ainda tenho muito para mudar, lutas para enfrentar… mas hoje luto com outras armas, que não a força do meu braço!”

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Maah Moreira